Reestruturação de Empresas: Fatores crítico de sucesso
- Lilian Eichenberger
- há 1 dia
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Os anos gloriosos de grande oferta de crédito e estabilidade econômica, ficaram no passado. A atual realidade enfrentada pela classe empresarial é um ambiente incerto com redução de demanda, competitividade acirrada, turbulência política, inflação e altos custos de capital.
Os sintomas da crise são fáceis de serem identificados: corrosão do capital, atraso no pagamento das obrigações, perda de clientes e equipe desmotivada. Diante desta situação, muitas empresas apresentam resultados negativos significativos e precisam considerar ações ousadas com o objetivo de reverter esta espiral descendente.
Estas ações são conhecidas como estratégias de turnaround, no qual se pretende reverter o declínio e recuperar a performance através de redução de ativos, cortes de custo e de geração de receitas. De tal forma que a aceitação do cenário de crise é o primeiro passo para o sucesso da recuperação.
Para gerir uma reestruturação, os líderes devem se concentrar em deter a erosão dos recursos, procurando atuar com senso de urgência e baixa complacência para que os recursos existentes sejam utilizados com maior eficiência.
Antes de iniciar qualquer reestruturação, uma empresa deve avaliar se vale a pena tentar. Muitas vezes, as empresas se esforçam na recuperação por instinto, pois acreditam que nada pode ser pior do que a falência ou liquidação. No entanto, a liquidação da empresa proporciona melhores perspectivas e benefícios para todos os envolvidos, ao passo que as perdas em falências são muito maiores.
Uma recuperação bem-sucedida é aquela impulsionada por concentrar esforços sobre a base do negócio, desenvolvendo uma estratégia competitiva clara, baseada na necessidade do mercado, controle efetivo dos custos, envolvimento da equipe e comprometimento da liderança. Desta forma, este artigo pretende apresentar os fatores sucesso para reverter a crise empresarial.
Tempo e Gravidade
Quando uma empresa entra em declínio, as perspectivas de controle da situação mudam completamente e o tempo passa a ser um fator crítico. Por isso a importância dos gestores estarem atentos e detectarem precocemente o declínio.
Quanto mais tempo se leva para iniciar a reestruturação, maiores serão as perdas de recursos e menor a probabilidade de sucesso. Os esforços para reverter o declínio podem ser inúteis quando implantado tardiamente e sua recuperação pode ser irreversível.
A gravidade da crise é uma medida da saúde empresarial, ela mede o grau em que a sobrevivência de uma organização está ameaçada.
A consciência, atribuição e percepção da gravidade do declínio são essenciais para a indicação adequada de estratégias de reestruturação, pois a severidade da crise dita o ritmo da reestruturação.
Relacionamento com stakeholders
Empresas em dificuldade geralmente sofre com relacionamentos conturbados entre os stakeholders, que compreendem investidores, fornecedores, clientes, equipe interna e autoridades. Estes conflitos são causados principalmente pela perda de credibilidade e falha na comunicação.
A governança corporativa é um instrumento fundamental para garantir uma comunicação clara, imparcial, verdadeira da situação da empresa e contribui para a restauração da confiança e assim com o sucesso do turnaround.
O sucesso na recuperação exige que as demandas dos stakeholders sejam atendidas, para garantir que não cessem a oferta de recursos neste momento crítico.
Liderança
O primeiro aspecto para a empresa responder adequadamente ao declínio, é a partir da consciência da crise. Quando uma empresa entra em declínio, os esforços dos executivos são desorientados e os problemas são intensificados.
Uma liderança forte é importante, porém quando o gestor não reconhecer suas falhas impede o processo de mudança. Além de que muitas vezes seus paradigmas não corresponderem à realidade, causando dificuldade na implementação de novas estratégias.
Com isto, uma mudança da alta direção pode acelerar a reversão do declínio, visto que novos executivos podem trazer novas habilidades e perspectivas diferentes sobre os problemas empresariais, além de produzir um valor simbólico e estimular novas atitudes na equipe.
A substituição da alta direção é recomendada para situações nas quais os stakeholders perderam a credibilidade ou quando a empresa precisa de uma reorientação estratégica intensa para se recuperar da crise. O poder simbólico que a mudança de liderança proporciona ao público externo e aos funcionários, demonstra que existe uma vontade da empresa em reverter o quadro de crise. Além de que o atual líder tem dificuldade em aceitar e identificar as causas da crise, de tal modo que não consegue estabelecer as mudanças necessárias para reverter o declínio.
Eficiência
A principal razão pelo qual as empresas adoecem é a ineficiência na gestão, desta forma estratégias que atuam na eficiência são as que oferecem melhores perspectivas de sucesso na recuperação.
A recente onda de reestruturações e desinvestimentos demonstra que a falta de eficiência e a baixa produtividade podem ser responsáveis por estratégias imprudentes de expansão e aquisição.
A eficiência em custo é geralmente o primeiro passo em qualquer estratégia de recuperação e elas podem ser rapidamente implementadas e não demandam capital ou recursos para apresentar efeitos.
Dentre as ações desta estratégia estão redução de pesquisa e desenvolvimento, reduzir o prazo dos recebíveis, redução de estoques, estender o prazo dos pagamentos, reduzir as atividades de marketing, eliminar aumentos salariais, demissão de funcionários e redução de ativos.
No entanto, se a redução de pessoal não for aliada a melhoria de eficiência, esta ação reduz a capacidade produtiva. Da mesma forma, a redução de ativos ou subsidiárias e redução de produtos ou mercado também limita as vendas.
É comum gerentes ignorarem deficiências de produtividade em favor de resultados de curto prazo. No entanto, esta negligência coloca em risco a lucratividade futura, visto que a produtividade é fundamental para a recuperação empresarial. A eficiência operacional indica a forma com que as empresas gerenciam seus recursos para suportar as vendas e prevenir possíveis declínios.
Mudança estratégica
Após a fase de estabilização da crise, a reestruturação estratégica é necessária para garantir um desempenho sustentável. É preciso redesenhar a estratégia a fim de adequá-la à nova realidade, principalmente quando a crise foi causada por fatores externos. Manter a mesma estratégia num cenário competitivo alterado que expos a empresa a vulnerabilidades parece não ser uma opção sensata.
As empresas que se recuperaram da crise, tiveram visão de futuro, estratégias de expansão e foco no mercado. Para encontrar formas mais ousadas para transformar seu negócio, os gestores devem formular suas estratégias com base nas suas competências essenciais buscando vantagens competitivas que garantam um negócio sustentável.
Como a inovação é um processo criativo, o tempo para o seu desenvolvimento é um entrave que dificulta o processo durante a recuperação de empresas em crise. No entanto, é evidente a necessidade de esforços em inovação para desenvolver novos produtos e identificar novos mercados.
O ambiente turbulento que contribuiu para o declínio empresarial possibilita uma série de novas estratégias. Essas mudanças contextuais podem alterar a utilidade de um produto, as capacidades de gestão e até a expansão do mercado.
Execução
Durante a recuperação, a maior dificuldade não está na identificação dos problemas estratégicos nem do desenvolvimento das soluções para esses problemas, mas sim na implementação do plano de salvação escolhido.
A adoção de estratégia de turnaround não é garantia de recuperação, contudo uma estratégia eficaz deve ser realizada de forma rápida, intensa e competente. Caso contrário se executada de forma superficial pode exacerbar o declínio.
Assim como a renovação na liderança, a mudança cultural facilita a implantação de novas estratégias, quebra paradigmas e pressupostos que não são relevantes no enfrentamento da crise. Ela é considerada uma barreira para o turnaround, pois foi moldada por valores autocráticos que contribuíram para o declínio.
Desta forma, a mudança das atitudes é considerada como uma ação fundamental para instaurar um senso de urgência, justiça, equidade e assim desenvolver uma atitude vencedora.
As ações que devem ser empreendidas para obter sucesso envolvem: coaching, treinamentos externos e mudança na estrutura organizacional. A utilização de metáforas “médicas” para transmitir a gravidade da situação é uma forma de enfatizar que não só os sistemas e estruturas precisam mudar, mas também os comportamentos e atitudes.
Reestruturação Financeira
Assim que as perspectivas do negócio são identificadas, a reestruturação financeira é fundamental para adequar o endividamento à níveis sustentáveis para a operação.
A dificuldade em desenvolver uma nova estrutura de capital que satisfaça os credores e permita à empresa resolver os problemas do negócio que originaram a crise é o desafio da reestruturação financeira.
As empresas em declínio, geralmente sofrem de asfixia no fluxo de caixa (incapacidade de realizar pagamentos no prazo); alavancagem excessiva (alto endividamento em relação ao capital social); estrutura inadequada da dívida (empréstimos de curto prazo) e insolvência no balanço patrimonial (passivo a descoberto). Para estimar o nível sustentável da dívida, é preciso analisar a capacidade de geração de caixa e caso não seja possível, a liquidação ou a falência deve ser considerada.
Desta forma, a reestruturação financeira tem por objetivo reformular a estrutura de capital da empresa, buscando um equilíbrio entre dívidas e recursos próprios para dar suporte ao plano de recuperação e assim aliviar a pressão exercida pelos juros e pelos desembolsos de pagamento de dívidas.
Novos financiamentos podem envolver endividamento adicional, geralmente realizado pelos próprios credores, os quais entendem que conceder novo crédito viabiliza a recuperação da dívida.
A reestruturação financeira pode ser uma barreira em qualquer plano, portanto o relacionamento com stakeholders é um fator fundamental para garantir que negociações de alongamento de dívida e fornecimento de novos créditos aconteçam
Geralmente, a reestruturação financeira ocorre em duas etapas, uma de sobrevivência no curto prazo e outra de reorganização na estrutura de capital no longo prazo. No curto prazo, a reestruturação deve buscar aliviar o fluxo de caixa para atender as necessidades prioritárias para sua recuperação e em seguida iniciar uma reestruturação de longo prazo para garantir que os planos estratégicos sejam realizados.
Acesso ao crédito
A falta de crédito é uma das principais causas de insucesso no turnaround, uma vez que o acesso à novas linhas de crédito aliviaria os problemas de fluxo de caixa. Na medida em que a captação de novos recursos envolverá endividamento adicional, os financiadores deverão ser convencidos de que para recuperar os créditos vencidos é conceder mais crédito.
A chave para uma recuperação bem-sucedida deve focar em clientes mais rentáveis e viáveis sob os aspectos de recursos disponíveis, desenvolver uma vantagem competitiva clara baseada nas necessidades valorizadas pelos clientes, promover controles de custo e contar com o apoio de uma liderança alinhada com as demandas do mercado.
As oportunidades de recuperação são proporcionais a combinação dos fatores críticos de sucesso apresentados neste artigo, podendo a recuperação ser completa e sustentável, ou uma mera sobrevivência não rentável.
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